02/08/2019
Reconhecer que precisamos evoluir é o primeiro passo para recomeçar. Essa frase resume um pouco do bate-papo que participei na semana passada no Mining Hub, em Belo Horizonte, projeto que reúne mineradoras, fornecedores, startups e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e tem discutido sobre o futuro do setor.
Formado em Engenharia Metalúrgica, eu, assim como muitos dos egressos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), sempre tive vontade de trabalhar na Samarco. Ingressei na empresa em outubro de 2016 como diretor de Operações e assumi como diretor-presidente em abril do ano passado, ciente do desafio que teria pela frente. A empresa, que já foi a quarta maior exportadora do país, está com suas atividades paralisadas após ter sua trajetória marcada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, o que impactou o meio ambiente e a vida de milhares de pessoas.
Ao chegar à Samarco percebi o engajamento dos empregados para que a reparação dos danos seja concretizada, um compromisso da empresa e dos acionistas que hoje está sendo conduzido pela Fundação Renova, e para a retomada das operações. Após as ações emergenciais, em março de 2016 foi firmado o Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado pela empresa, nossos acionistas, Vale e BHP, governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, que estabeleceu a criação da Fundação Renova para dar andamento aos programas de reparação e compensação dos impactos.
O rompimento da barragem de Fundão sempre marcará a história da Samarco, mas precisamos seguir em frente. A partir de todos os aprendizados, precisamos fazer diferente e a inovação é fundamental nesse processo. Nossa retomada será gradual, inicialmente com 26% de capacidade produtiva, sem barragem de rejeitos e com um sistema de filtragem para empilhamento a seco, o que irá conferir ainda mais segurança ao processo.
Buscamos a cada dia fortalecer a nossa gestão de riscos e a nossa cultura de prevenção. Desenvolvemos um Sistema Integrado de Segurança, que conta com o Centro de Monitoramento e Inspeção (CMI) com mais de 600 equipamentos para monitorar nossas estruturas geotécnicas 24 horas por dia, sete dias por semana. Em paralelo à preparação para a retomada, está em curso na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) o processo para obtenção da Licença Operacional Corretiva (LOC) do Complexo de Germano.
Há quase quatro anos sem operar, a empresa acredita na inovação para se reinventar e contribuir para uma nova mineração. Reescrever uma história que nasceu inovadora. A Samarco, criada em 1977, foi projetada para beneficiar o itabirito, um minério pobre, considerado estéril, um grande desafio na época. Aliado a isso, a empresa implementou o primeiro mineroduto do país, solução logística que permite levar a polpa de minério do Complexo de Germano, em Mariana, até o Complexo de Ubu, no Espírito Santo.
Sabemos que sozinhos não conseguiremos ir muito longe. Por isso apostamos na colaboração, na inovação aberta. Em 2018, lançamos o Desafio MinerALL, um trabalho construído em parceria com a NEO Ventures, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT MIDAS), Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Na sua primeira edição, o Desafio MinerALL foi direcionado para estudantes de graduação e de pós-graduação desenvolverem novos negócios a partir do aproveitamento dos rejeitos de mineração gerando impactos positivos para os territórios mineradores.
Sabemos que ainda teremos muitos desafios nessa trajetória. Tem sido um caminho fácil? Não. Mas é um novo caminho e é nele que seguimos. Refletindo sobre nossas experiências, investindo em novas ideias, compartilhando aprendizados, entendendo as mudanças do setor e as necessidades de todos os envolvidos para, assim, fazermos a diferença. Dessa forma, priorizando as pessoas, com respeito ao meio ambiente, com foco na segurança é que poderemos transformar recursos minerais em um valor para a sociedade.
Rodrigo Vilela, diretor-presidente da Samarco