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Artigo: A China e seu modelo de uso de rejeitos da mineração

09/06/2017

george liu

 

Os avanços na  tecnologia têm promovido uma verdadeira revolução no setor industrial em todo o mundo. Algumas destas inovações estão transformando a forma como os países utilizam seus recursos minerais e energéticos para tornar os modelos econômicos mais sustentáveis.

Mudanças climáticas, redução de geração de CO2 e dos demais impactos ambientais explicam em parte a virada dos paradigmas desenvolvimentistas. Essa transformação está propiciando a ampliação global da nova economia circular, em que rejeitos e resíduos se tornam parte integrante do processo produtivo. Nada se perde. Tudo se torna reutilizável.

Entre os países que têm se destacado nesta economia circular está a China, que se tornou um grande “player” diante dos desafios do seu vertiginoso crescimento econômico e consequente emissão elevada de dióxido de carbono. O país tem buscado criar soluções para a sua própria sobrevivência. E isso vem ocorrendo por meio de dezenas de ações, que envolvem grandes parcerias entre empresas, universidades e governo. Todos têm total clareza sobre o seu papel dentro da cadeia econômica e entendem a importância do apoio mútuo para fomentar o conhecimento e as inovações.

A China Association of Circular Economy (CACE) é um dos exemplos dessas parcerias de sucesso. A organização se tornou nos últimos anos referência na promoção da economia circular, ao apoiar diversos setores industriais no desenvolvimento de inovações tecnológicas para o aproveitamento de rejeitos e resíduos, dentre eles, os da mineração chinesa.

O resultado tem servido de benchmarking para outros países. Algumas missões de empresários e de entidades governamentais foram à China querendo aprender sobre a fabricação de produtos oriundos da economia circular, como vidro especial criado a partir de um sistema microcristalino para aplicações em aeronaves, agregados para concreto e pavimentação asfáltica, concreto aerado autoclavado, dentre outros. Além disso, essas missões buscam entender o modelo utilizado para integrar governo, indústria e universidades.

O Brasil vive um momento de expectativa de que seja criado um ambiente propício para que os modelos da economia circular que estão tendo sucesso na China também possam ser implementados nos setores mineral e siderúrgico do país.  Para isso, o governo brasileiro precisa assumir suas responsabilidades e liderar o processo de formulação de leis, regulamentos e políticas públicas que estimulem esse novo modelo econômico.

A sociedade civil organizada e empresas como as mineradoras Vale, Samarco e Votorantim já deram passos relevantes, mostrando que estão caminhando nessa direção. Experiências importantes no mercado interno já podem ser observadas nas áreas de mineração, siderurgia e construção civil. Um bom exemplo desse tipo de articulação acontece em Minas Gerais. É a Plataforma R3 Mineral, criada em 2016, para fomentar as pesquisas e discussões sobre o uso de resíduos e rejeitos. Formada por pesquisadores, entidades de classe, mineradoras e empresas com potencial para reutilizar os rejeitos gerados, a R3 Mineral tem como missão o apoio ao desenvolvimento de projetos deste que é um dos maiores desafios  do setor mineral em Minas Gerais.

Com o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em novembro de 2015, a discussão do tema ganhou uma urgência ainda maior. A própria Samarco já tem apresentado nos fóruns da Plataforma R3 Mineral diversos estudos e algumas obras já realizadas, como o calçamento de um bairro no município de Guarapari (ES) com blocos intertravados, feitos de rejeito arenoso, e uma casa construída na Fazenda Modelo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com utilização de lama, rejeito arenoso e estéril.

Fica agora a expectativa de que governo e todos os segmentos envolvidos continuem investindo no tema e que o Brasil se torne, em um futuro próximo, uma referência global no aproveitamento de resíduos e rejeitos.

 

George Liu

Consultor e especialista em aplicação de rejeitos da mineração